A decisão foi tomada pelo juiz Vielbado José de Freitas Pereira, no dia 7 de novembro deste ano e confirmada pelo TJ (Tribunal de Justiça da Bahia) e pelo MP (Ministério Público da Bahia), que pediu a absolvição do réu, nesta quinta-feira, 17/11.
O Tribunal de Justiça da Bahia absolveu o médico Rodolfo Cordeiro Lucas, acusado de tentar matar a médica Sattia Lorena Patrocínio Aleixo, em julho do ano passado. A vítima caiu do 5° andar do prédio em que morava com o médico, durante uma briga. A decisão cabe recurso.
No mês de agosto, Rodolfo Cordeiro Lucas passou da condição de suspeito a réu do processo em que foi acusado de cometer o crime de feminicídio na modalidade tentada.
Onde trabalha, Rodolfo é considerado um homem pacato, tranquilo e que jamais teve discussão com nenhum colega seja médico ou outro profissional. Os dois já trabalharam no mesmo local e, segundo apurou a reportagem, a médica sempre questionava o marido sobre supostas traições. Muitos consideram ilações e excessivo ciúme.
Primeira denúncia do MP
A primeira denúncia do MP-BA apontou que, no dia 20 de julho do ano passado, por volta das 0h30, Rodolfo Cordeiro, após agredir fisicamente Sattia Lorena, empurrou-a na direção da janela do quarto do casal do apartamento onde viviam. O imóvel fica no 5º andar do Edifício Serra do Mar, no Bairro de Armação.
De acordo com o documento, o suspeito teria forçado que as mãos da médica, que as mantinham dependurada na janela, se soltassem, o que provocou a queda de uma altura de 15,5 metros, causando graves ferimentos.
O promotor de Justiça Davi Gallo, responsável pelo caso, ressaltou que o motivo do crime foi torpe, pois a “ação criminosa foi precedida de ameaças pelo agressor em face da vítima, reiterados momentos antes do desfecho trágico, e as quais decorreram do sentimento de posse e da não aceitação da ruptura do relacionamento pelo agressor”.
Davi Gallo complementou que a vítima não teve qualquer chance de defesa, pois foi enforcada e agredida pelo denunciado, “desvencilhando-se em determinado momento” e permanecendo em pé em cima da cama do quarto do casal.
Mudança de linha
No dia 15 de julho, o MP pediu para a Polícia Civil fazer uma nova reconstituição do caso. De acordo com o órgão, a nova reconstituição pedida deveria conter a versão dos fatos dada pela vítima. A primeira foi questionada pela defesa do investigado.
Após recebimento da denúncia pela Justiça, o advogado Maurício Vasconcelos, que representa Sáttia, falou que esperava levar Rodolfo ao tribunal do júri.
“É o desfecho daquilo que nós já sabíamos, que de fato houve uma tentativa de homicídio perpetrado contra a mesma [Sáttia], que quase a levou à morte e que ainda deixa sequelas terríveis, não só no campo físico, como emocional. E nós vamos aguardar a instrução, na certeza de que tudo isso será confirmado, e esperar que o denunciado seja levado a julgamento perante ao tribunal do júri. Essa é nossa expectativa”, falou.
Com a conclusão da instrução criminal, a Promotoria de Justiça entendeu que o médico deveria ser absolvido, porque não encontrou provas que sustentassem que o acusado teria empurrado a médica.
Caso
O caso aconteceu na madrugada do dia 20 de julho, durante uma discussão do casal no prédio onde eles moravam, no Bairro de Armação. Sáttia Lorena chegou a ficar em coma induzido e foi ouvida pela polícia cerca de um mês depois do ocorrido. Segundo a polícia, o trauma que ela sofreu comprometeu a memória recente da médica.
Rodolfo, companheiro de Sáttia, chegou a ser preso em flagrante pelo crime, mas foi solto por decisão judicial.
Além da própria Sáttia, o suspeito foi ouvido pela polícia. Testemunhas também prestaram depoimentos.
Investigação
A principal suspeita da polícia é de que Sáttia tenha sido empurrada do apartamento por Rodolfo.
Em depoimento na Delegacia de Atendimento Especial à Mulher, o médico Rodolfo negou que tenha jogado Sáttia do apartamento e disse que a médica se dopava e estava depressiva, versão negada pela família dela. Ele disse à polícia que a médica se pendurou na janela do apartamento e que ele ainda tentou ajudá-la, segurando as mãos dela, mas mesmo assim ela caiu.
Familiares de Sáttia disseram que acreditam que ela foi jogada do apartamento pelo companheiro, e relataram que a médica vivia em um relacionamento abusivo. Uma vizinha do prédio em que Sáttia morava antes de se mudar com o companheiro também relatou que relação do casal era marcada por brigas, e que chegou a ver a médica pedindo socorro.
A irmã de Sáttia disse, em depoimento à polícia, que a médica desabafou sobre humilhações que o médico a submetia. Jacqueline Aleixo afirmou que Rodolfo controlava as roupas de Sáttia e que ela teve que sair da academia de ginástica e desativar redes sociais, por causa do ciúme do companheiro.
Imagens da câmera de segurança mostraram a médica Sáttia no elevador, horas antes de cair do quinto andar do prédio. No vídeo, é possível ver que a médica gesticulava bastante ao telefone, como se estivesse em discussão, por volta das 16h40 do dia 19 de julho.
Fonte: Bahiaon